Estudar a atleta feminina é algo complexo e difícil. Não é por acaso que, estudos nos mostram uma diferença extremamente significativa entre homens e mulheres, como sujeitos de investigação. Será que o ciclo menstrual tem impacto na sua performance desportiva?
No entanto, e felizmente, cada vez mais os investigadores têm investido em estudar a atleta feminina de modo a se conseguir compreender cada vez melhor qual o impacto das alterações hormonais nos mais variados indicadores de performance e recuperação desportiva.
Um dado que não podemos esquecer é que existem diversas diferenças entre o atleta masculino e a atleta feminina que interferem com a performance desportiva, como por exemplo sabe-se que a atleta feminina:
- Apresenta uma taxa de sudorese mais baixa;
- Apresenta uma capacidade de endurance mais elevada;
- Apresenta mais alterações hormonais;
- Tem uma tendência para apresentar uma velocidade de esvaziamento gástrico mais baixa.
Todos estes fatores, e muitos outros, fazem com que as respostas ao treinos e capacidade e recuperações sejam diferentes entre o atleta masculino e a atleta feminina, o que faz com que, enquanto nutricionista, tenha de aplicar diferentes estratégias nutricionais.
A grande questão é:
Será que ao longo do ciclo menstrual, as atletas sentem mesmo diferenças?
Pois bem, a verdade é que depende!
Na literatura existente ao momento, apesar de teoricamente fazer sentido haverem alterações na performance, as sensações reportadas pelas atletas não são consistentes. O único ponto em que parece haver algum consenso é uma sensação de diminuição da performance durante o período da menstruação.
Se olharmos para a capacidade aeróbia seria de esperar uma melhoria da mesma na fase lútea inicial, mas o reportado é uma variabilidade imensa entre atletas sobre qual a fase do ciclo menstrual.
Em relação à capacidade anaeróbia e força já parece haver menos variabilidade nos feedbacks. Se olharmos para as hormonas faz sentido potenciarmos o treino de força na fase folicular tardia e ovulação, dado que é quando existe um pico de estrogénio e de testosterona. Os dados existentes mostram exatamente isso: a maioria das atletas femininas dizem ter maior capacidade anaeróbia e de força na fase folicular e na ovulação, em comparação com as restantes fases do ciclo menstrual.
Outros factos que influenciam a performance desportiva
A performance das mulheres não é unicamente afetada pelos picos hormonais. Na verdade, existem muitos outros fatores intrínsecos e extrínsecos que têm um papel fundamental na nossa performance desportiva, como:
- o sono;
- a saúde mental;
- o funcionamento gastrointestinal;
- o estado do sistema imunitário;
- entre outros.
No que respeita à relação entre o ciclo menstrual e estes fatores, sabe-se que o ciclo menstrual também tem uma palavra a dizer. Com o aumento da temperatura corporal na ovulação, os possíveis sintomas pré-menstruais e a alteração do metabolismo do triptofano na menstruação, é possível que a qualidade de sono seja afetada nestes momentos do ciclo menstrual. Já com a diminuição do estrogénio na fase lútea, é possível que o sistema imunitário fique mais fragilizado.
Dados todos estes pontos e fatores de extrema relevância e sabendo que cada atleta feminina irá ter as suas próprias experiências e feedbacks para cada uma das situações, devemos de trabalhar em conjunto com a atleta e monitorizar todas estas alterações, consoante os feedbacks, ao longo de cada ciclo menstrual, para que haja um conhecimento sobre o funcionamento do corpo o mais profundo possível e adequar toda a intervenção de forma individualizada.
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