O controlo do peso na gravidez é importante. Mas tens em conta, de forma detalhada, as necessidades de vitaminas e minerais específicos para o adequado desenvolvimento fetal? Vamos conhecer quais os suplementos na gravidez que são imprescindíveis.
A vitamina A, o zinco, o magnésio, o cálcio, a vitamina B12, e especialmente o ácido fólico, o ferro e o iodo são fundamentais para o adequado desenvolvimento fetal e bem-estar materno.
Mas recomendações há muitas!
Será que devemos suplementar sempre? Será que é preciso suplementar durante toda a gravidez? E qual o melhor momento para cada um dos suplementos na gravidez?
Deixamos em seguida as respostas práticas a todas estas perguntas, no que toca à tríade mais importante: ácido fólico, iodo e ferro.
Ácido fólico
Em primeiro lugar, é importante referir que o ácido fólico e o folato não são a mesma molécula.
O folato é encontrado nos alimentos, enquanto o ácido fólico corresponde à fórmula sintética, presente nos suplementos.
As principais fontes alimentares de folato são: feijão frade, cereais fortificados, agrião cru, espargos, beterraba crua, ovo, couve-de-bruxelas, couve lombarda, tremoços, favas cozidas.
Este é um nutriente reconhecidamente essencial para o adequado desenvolvimento da coluna vertebral e encerramento do tubo neural do feto, situações que ocorrem durante as primeiras 6 semanas da gravidez.
Também é fundamental para suportar o rápido crescimento, replicação e divisão celular e a síntese de nucleótidos fetais e placentares, sobretudo no 2.º e 3.º trimestres.
No que diz respeito à suplementação em ácido fólico, deveremos considerar:
- Dosagem: 400 μg/dia;
- Iniciar no período de pré-conceção;
- Manter até ao final da gravidez.
Por outro lado, vale a pena considerar a possibilidade de suplementar diretamente com metilfolato.
Muitas pessoas apresentam continuamente baixos níveis séricos de folato devido a variações genéticas no gene MTHFR, situação relativamente comum. Este gene é responsável pela produção da enzima Metiltetrahidrofolato redutase, envolvida no metabolismo da homocisteína, resultando no aumento do último e na redução da forma ativa do folato.
A forma metilada do folato encontra-se ativa e funcional.
Iodo
O iodo é determinante para a síntese de hormonas tiroideias, fundamentais para a regulação do gasto energético e temperatural corporal.
Estas hormonas interferem ainda nas funções cardíaca, renal, hepática e cerebral, influenciando o desenvolvimento, humor, memória, peso corporal, ciclo menstrual e fertilidade.
A glândula tiroideia do feto atinge a sua maturidade nas semanas 11 a 12, iniciando a sua atividade hormonal autónoma a partir da 16.º semana.
Este facto implica que, durante todo o 1.º trimestre, o bebé dependa diretamente da função hormonal materna, exigindo por isso um suporte nutricional adequado, não só em iodo, mas também em selénio, ferro, vitamina D e vitaminas do complexo B.
O iodo é ainda um nutriente fundamental para garantir a correta maturação do sistema nervoso central do feto, e prevenir anomalias congénitas.
Assim, a ingestão suficiente de iodo pela grávida torna-se determinante para a viabilidade da gravidez.
Na alimentação, o iodo encontra-se no sal iodado, pescado, leguminosas, hortícolas e lacticínios. Contudo, as concentrações deste nutriente nos alimentos são bastante baixas e variáveis.
Recomenda-se, por isso, a suplementação com 150 a 200 μg/dia de iodeto de potássio a todas as mulheres, exceto aquelas com patologia da tiroide, onde esta suplementação está contraindicada.
Ferro
O ferro é um substrato fundamental para a produção de hemoglobina.
Na alimentação, o ferro pode ser encontrado em carne, peixe, ovo, cereais enriquecidos, trigo, feijão, lentilhas, grão, quinoa, caju, tremoço, agrião, endívias, couve-galega, e vegetais de folha verde-escuras muito bem cozinhados.
Durante a gravidez, as necessidades em ferro estão muito aumentadas a partir das 20 semanas de gestação, devido ao aumento de glóbulos vermelhos em circulação e ao crescimento exponencial do feto.
Esta demanda acrescida de ferro impossibilita, muitas vezes, assegurar as necessidades apenas através da alimentação, tornando-se fundamental a suplementação.
As recomendações de suplementação são as seguintes:
- Dosagem: entre 30 e 60 mg/dia em mulheres sem anemia;
- Fundamental após a 20.º semana;
- Evitar a toma junto de alimentos que inibem a sua absorção: lacticínios (cálcio), fitatos (ex.: leguminosas, soja, frutos gordos, tofu), oxalatos (presentes nos vegetais de folha verde-escura crus), e os polifenóis (ex.: leguminosas, chá, infusões, chocolate e café).
Uma das consequências mais comuns da suplementação de ferro é a obstipação.
Optar pela fórmula de ferro bisglicinato será preferível para mulheres que sofrem deste sintoma. Esta é também uma das formas com maior biodisponibilidade.
Naturalmente, independentemente da suplementação aconselhada, será fundamental assegurar uma elevada ingestão alimentar de todos estes nutrientes.
O sucesso da gravidez depende muitas vezes das escolhas da grávida. Cabe-nos a nós, nutricionistas, promover as melhores escolhas possíveis no que diz respeito à sua alimentação.
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