Os primeiros anos de vida de uma criança são essenciais para a saúde e o desenvolvimento posteriores. Principalmente, devido à rapidez com que o cérebro cresce desde que o bebé está na barriga da mãe até à primeira infância. Conheces o real impacto da alimentação no neurodesenvolvimento?
Embora o cérebro continue a desenvolver-se e a mudar na idade adulta, os primeiros 8 anos podem construir uma base para a aprendizagem futura, a saúde e o sucesso na vida.
De acordo com o Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, existem 3 pilares considerados “The Foundations of Lifelong Health”, que para além da componente genética, todos eles estão relacionados de alguma forma com o neurodesenvolvimento.
Enquanto Nutricionistas e profissionais de saúde, temos o privilégio de poder atuar em todos eles, da gravidez à infância, e assim garantir um desenvolvimento saudável das futuras gerações. São eles:
Relações estáveis e responsivas
“Um ambiente estável e responsivo de relacionamentos, que proporcionem às crianças interações consistentes, estimulantes e protetoras com os adultos, que melhorem a sua aprendizagem e as ajudem a desenvolver capacidades adaptativas que promovam sistemas de resposta ao stress bem regulados.”
Dentro do primeiro pilar, podemos destacar o papel das interações “serve and return” que moldam a arquitetura do cérebro, e que à mesa se refletem no conceito de Alimentação Responsiva.
A Alimentação Responsiva traduz-se em “Práticas alimentares que incentivam a criança a comer de forma autónoma e em resposta às necessidades fisiológicas e de desenvolvimento, o que pode incentivar a autorregulação na alimentação e apoiar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social.”
De acordo com o proposto por revisões internacionais, a Alimentação Responsiva é concetualizada como um processo de 4 etapas:
- O cuidador cria uma rotina, estrutura, expectativas e contexto emocional que promovem a interação;
- A criança responde e sinaliza ao cuidador;
- O cuidador responde prontamente de uma maneira que seja emocionalmente favorável, contingente e apropriada ao desenvolvimento;
- A criança começa a prever as respostas do cuidador.
Ambientes seguros e de apoio
“Ambientes físicos, químicos e construídos seguros e de apoio, que proporcionem locais para as crianças, livres de toxinas e medo, que permitam a exploração ativa e segura e ofereçam às famílias que criam crianças oportunidades de exercício e de estabelecer ligações sociais.”
Enquanto Nutricionistas, temos o papel de minimizar a exposição a toxinas e contaminantes ambientais através da alimentação das famílias que acompanhamos. Realçando a presença de metais pesados nos alimentos, nomeadamente o metilmercúrio, o chumbo, o cádmio e o arsénio, que presentes na alimentação da mãe durante a gravidez ou na alimentação de bebés e crianças pequenas, em quantidades excessivas, podem ter efeito negativo no neurodesenvolvimento da criança.
Nutrição Adequada
“Uma nutrição saudável e adequada, que inclui a ingestão de alimentos e a prática de hábitos alimentares que promovem a saúde, começando ainda no estado nutricional em pré-conceção da futura mãe.”
O papel do estado e aporte nutricional desde a pré-conceção até aos primeiros anos de vida no neurodesenvolvimento do bebé é inegável.
Os primeiros 1000 dias são uma janela de oportunidade única para garantir que os nutrientes certos estão presentes nos momentos-chave do desenvolvimento cerebral do bebé, dando a melhor oportunidade possível aquele bebé de ter um desenvolvimento saudável.
Os nutrientes essenciais são:
- Lípidos (Ácidos Gordos Polinsaturados de cadeia longa e fosfolípidos)
- Aminoácidos (Tirosina e triptofano)
- Minerais (Ferro, zinco e iodo)
- Vitaminas (Vitamina A, Vitamina B12, Folato, Vitamina D)
As bases para uma saúde duradoura ao longo da vida são construídas nos primeiros 1000 dias de vida do bebé e o Nutricionista tem a oportunidade de contribuir diretamente em cada uma delas.
Referências bibliográficas
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